Você era tão bela, que fiquei estupidamente encantado.
Mas eu tinha visto outras tão belas e tão vazias.
Que te deixei passar.
Fui morar em um bairro solitário onde os vizinhos não falavam uns com os outros.
Você ficou escrevendo ótimos livros, que nunca foram publicados.
Você ilustrou quadros cheios de flores, de luz, de vida, pintaste um casal apaixonado, no campo, com uma cesta de piquenique.
Vendo o eclipse da lua no topo de uma montanha.
Você ficou esperando o amor verdadeiro.
Nem mesmo se tentou pelos pretendentes materialistas e egocêntricos, que acabaram se casando com uma série de esposas-troféu.
Eu aproveitei alguns negócios pequenos, de importação e exportação.
Tinha abandonado uma parte de mim, só encontrava paz na feiúra, solidão, em uma garrafa de whisky.
Foram muitos anos olhando as estações pela janela.
Gostava do outono e primavera.
O verão era muito quente, o inverno muito frio.
Tive insônia uma noite, fiz chá, café, chocolate quente, até chegar a aurora.
eu nunca tinha visto uma coisa tão bonita desde a ultima vez que te vi.
Meus olhos ardiam pela forte luz, mas fui incapaz de desviar o olhar.
Lembrei de você naquele momento, tirei uma foto e escrevi um poema.
Imprimi em uma folha e levei até a sua casa.
Você tinha morrido à dois anos.
Soube pela sua vizinha, disse ela que nunca tinha conhecido alguém tão doce como você.
Você falava muito sobre esperar o amor verdadeiro.
Me aproximei da sua porta e vi uma inscrição em latim.
´´Quociens exspectant``
Eu morri ali, naquele momento, foi quando deixei de existir.